MPLA diz que 27 de Maio resultou de contradições da luta de libertação

O deputado Mário Pinto de Andrade, do MPLA, considerou que os conflitos do 27 de Maio de 1977 resultaram de “contradições da luta de libertação nacional”.

Em declarações à margem das cerimónias fúnebres do general do exército Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof”, vítima dos conflitos políticos ocorridos há 46 anos, o dirigente do Movimento Popular de Libertação de Angola (MPLA), referiu que o 27 de Maio foi dos acontecimentos “mais dramáticos” do país.

“O conflito do 27 de Maio é daqueles dos mais dramáticos, que foi um conflito dentro do MPLA, portanto aquilo que eu chamo as contradições da luta de libertação nacional trazida depois para o pós-independência”, disse o político aos jornalistas no Cemitério da Santana, em Luanda.

As ossadas de Eduardo Ernesto Gomes “Bakalof” foram enterradas esta Quinta-feira neste cemitério, com honras militares, na presença de membros da Comissão para a Implementação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos Políticos (CIVICOP), familiares, deputados e sobreviventes destes conflitos.

Para Mário Pinto de Andrade, também secretário para a Reforma do Estado, Administração Pública e Autarquias do seu partido, o funeral do general traduz-se num momento de reflexão, sobre tudo devido aos 46 anos de angústia vividos pela família.

“E hoje o general e a família encontram a paz também, porque enterrar um ente querido é sempre um acto doloroso, mas é um dever e, portanto, a atitude do Presidente da República, João Lourenço, de criar a CIVICOP para podermos procurar e honrarmos as vítimas dos vários conflitos é um acto muito nobre”, afirmou.

“Este acto que acabamos aqui de presenciar é mais um, o general “Bakalof” foi um grande combatente da luta de libertação nacional, foi um grande combatente da primeira região”, acrescentou.

O 27 de Maio de 1977 foi uma alegada tentativa de golpe de Estado levada a cabo por “fraccionistas” do MPLA, liderados por Nito Alves, ainda sob a presidência de Agostinho Neto, primeiro Presidente de Angola, em que terão morrido milhares de angolanos.

O Governo assegurou que a exumação e certificação das ossadas do general obedeceu o protocolo médico forense e teve acompanhamento “rigoroso” da família.

“É um processo que respeita todo o protocolo, a exumação é feita por especialistas e depois o corpo é acondicionado em área própria. Seguem-se os exames pertinentes com todo o protocolo médico forense que se recomenda”, disse à Lusa o porta-voz da CIVICOP, Israel Nambi.

O porta-voz da CIVICOP salientou também que depois dos resultados os exames, realizados pelo Laboratório Central de Criminalística (LCC), em Luanda, uma cópia é entregue aos familiares.
Em nome da família, Julião Ernesto Gomes, irmão de “Bakalof”, agradeceu ao Presidente João Lourenço a oportunidade da realização de um funeral condigno.

“Desta forma a família está devidamente emocionada porque nós não contávamos com esta realização durante os mais de 40 anos”, disse, pedindo ainda “atenção especial” aos descendentes do general.

A deputada da União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA), Clarice Caputu, também esteve presente nesta cerimónia fúnebre e sinalizou a importância do momento, considerando ser esta uma “homenagem merecida”.

“É uma homenagem merecida a quem deu a sua quota-parte para a libertação do país do jugo colonial, portanto, foi um combatente para a independência”, disse à Lusa, destacando que é importante também para a família “poder viver o processo do luto”.

O Ministério da Defesa Nacional, Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, na sua mensagem de condolências à família apresentada pelo brigadeiro António Jorge, disseque o general “Bakalof” foi um dos filhos de Angola “que desde cedo se juntou à causa comum pela libertação de Angola com outros nacionalistas”.

“O desaparecimento prematuro deste quadro militar constituiu para nós uma perda irreparável cujo exemplo de coragem, bravura e patriotismo ficaram gravados nos anais da história militar de Angola”, assinala-se na nota.

Em 2019, o Presidente João Lourenço criou a CIVICOP, encarregue do plano geral de homenagem às vítimas dos conflitos políticos, que ocorreram em Angola entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2022, e dois anos depois pediu desculpas às famílias, em nome do Estado.

Fonte: http://opr.news/6a572ceb231117pt_ao?link=1&client=iosnews